Supremo Tribunal Federal

Pesquisar este blog

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Fw: Poesia na Companhia: Entre livros, entrelinhas




Veja este email no seu navegador

O que cabe num livro fechado, encerrado entre capa e quarta capa, entre uma linha e outra, na entrelinha, sussurrado na orelha? Para Francisco Alvim, "leitura fluida" é aquela que começa e termina numa sentada. Carlos Drummond de Andrade nota que a orelha é "por onde o poeta escuta/ se dele falam mal/ ou se o amam". Já Hilda Hilst percebe que, assim como "A mesa de escrever é feita de amor/ e de submissão", também "Os livros são criaturas". Paulo Leminski se surpreende como os livros têm memória: "sabem de cor/ milhares de poemas". Uma vida sem filhos ou árvores, só com livros, pode ser resumida por José Paulo Paes como "a existência/ feita essência:/ pó". Wallace Stevens, numa noite tranquila, com a casa quieta, observa que livro e leitor se fundem em um só: "É calma, é verão e é noite, a verdade/ É o leitor insone debruçado a ler."
 

Sente-se
 
leitura fluida
Agradável
Sem anteparos ou
escolhos
É para se ler de uma
sentada

 

Poema-orelha
 
Esta é a orelha do livro
por onde o poeta escuta
se dele falam mal
            ou se o amam.
 
(...)
 
Tudo vivido? Nada.
Nada vivido? Tudo.
A orelha pouco explica
de cuidados terrenos:
 
e a poesia mais rica
é um sinal de menos.

 

do livro Da poesia

"XVI" (Balada de Alzira)


O que nós vemos das coisas são as coisas.
Fernando Pessoa


(...)
 
A mesa de escrever é feita de amor
e de submissão.
No entanto
ninguém a vê
como eu a vejo.
 
(...)
 
Os livros são criaturas.
Cada página um ano de vida,
cada leitura um pouco de alegria
e esta alegria
é igual ao consolo dos homens
quando permanecemos inquietos
em resposta às suas inquietudes.
 
As coisas não existem.
A ideia, sim.
A ideia é infinita
igual ao sonho das crianças.

 

do livro Toda poesia

M, de memória
 
     Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
     Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
     Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Troia,
     assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
     Um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
     Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
     Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
     Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
     Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
     Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.

 

a J.-P. Sartre


morto
sem filho nem
árvore
 
livros só
 
enfim
a existência
feita essência:

 

do livro O imperador do sorvete e outros poemas
Tradução de Paulo Henriques Britto

A casa estava quieta e o mundo calmo
 
A casa estava quieta e o mundo calmo.
Leitor tornou-se livro, e a noite de verão
 
Era como o ser consciente do livro.
A casa estava quieta e o mundo calmo.
 
Palavras eram ditas como se livro não houvesse,
Só que o leitor debruçado sobre a página
 
Queria debruçar-se, queria mais que muito ser
O sábio para quem o livro é verdadeiro
 
E a noite de verão é como perfeição da mente.
A casa estava quieta porque tinha de estar.
 
Estar quieta era parte do sentido e da mente:
Acesso da perfeição à página.
 
E o mundo estava calmo. Em mundo calmo,
Em que não há outro sentido, a verdade
 
É calma, é verão e é noite, a verdade
É o leitor insone debruçado a ler.


Os três primeiros assinantes a responderem esta newsletter vão receber um exemplar de O imperador do sorvete e outros poemas, de Wallace Stevens, com tradução de Paulo Henriques Britto.

Copyright © 2019 Editora Schwarcz S.A. Todos os direitos reservados.

 www.companhiadasletras.com.br | www.blogdacompanhia.com.br 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário