Um método igualmente simples, que também costuma render bons resultados entre os iniciantes da arte da escrita, é o chamado processo das perguntas. Depois de escolher o gênero ou formato por onde começar, formule para você mesmo uma séria de perguntas relativas ao assunto que você pretende abordar. Interrogações que devem ir das mais simples às mais complexas, mas sem perder de vista seu objetivo – escrever sobre determinado tema. Por exemplo: - por que escolheu este assunto, e não outro? (caso tenha havido uma oportunidade de escolha.) - o que você pretende dizer? - como você pretende enforcar o assunto escolhido. - de que informações e recursos (materiais e intelectuais) você dispõe? - em meio às informações e opiniões, como você se posiciona a respeito do assunto em questão? - onde você pode obter as informações complementares? - que grau de aprofundamento você pretende dar ao assunto? - qual o tamanho do texto? - que voz e tom você escolherá para construir o texto?
Paralelamente, desenvolva o seguinte esquema-padrão, que pode ser um bom truque para você começar (contanto que não se torne um cacoete de escrita): - selecione os elementos (informações, sobretudo) que integração cada etapa de seu texto (começo, meio e fim). - estabeleça a idéia-núcleo e, em torno dela, construa o parágrafo inicial e introdução (começo). - ordene os elementos que integrarão o desenvolvimento (meio0. - determine qual vai ser a conclusão do seu texto. - ordene os elementos que integrarão a conclusão (fim).
De posse das respostas (que precisam ser as mais objetivas e sinceras possíveis0 e das informações bem ordenadas, avalie metodicamente todo esse material. Anote frases, fragmentos e palavras. Organize também essa nova etapa do trabalho. Faça sempre isso, a cada frase. Organização é fundamental. Procure fazer tudo isso (perguntas, respostas, ordenamento do material) segundo uma ordem lógica. Agindo assim, você vai ficar surpreso ao verificar que as respostas enfim organizadas já constituem, de certa maneira, o texto que você pretende escrever. E que, de alguma forma, já conseguiu. Agora é ir em frente. Aos poucos, certamente todo esse processo será assimilado inconscientemente por você, como uma segunda natureza. Graças à persistência e à dedicação, você terá enfim adquirido esse hábito chamado boa escrita. BORGES, Antonio Fernando. Não perca a prosa: o pequeno guia da grande arte da escrita. Rio de Janeiro: Versal, 2003.
Estudo de Tida Carvalho sobre o Padre Vieira e o poeta Augusto de Campos: http://www.cultura.mg.gov.br/arquivos/SuplementoLiterario/File/sl-edicao-fevereiro.pdf
Folha de São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010
IMAGINAÇÃO PROSA, POESIA E TRADUÇÃO
O que faz de um tango um tango
MARIO SABINO
O QUE FAZ de um tango um tango não são as letras lamuriosas. O que faz de um tango um tango não é o Gardel morto que canta cada vez melhor. O que faz de um tango um tango não são os passos ensaiados na tradição. O que faz de um tango um tango não é a orquestra com o ar cansado de quem tudo já viu. O que faz de um tango um tango não são as pernas altas da dançarina, calçadas em meias pretas. Não é seu cabelo preso ora com flor, ora com fita. O que faz de um tango um tango não é o chapéu antigo do dançarino. Não são os seus sapatos lustrosos. Não é o seu terno de risca-de-giz. Não é o seu lenço dobrado no bolso da lapela. O que faz de um tango um tango não é Buenos Aires. Não é qualquer geo-grafia. O tango não está no mundo das latitudes, das longitudes, das cartografias, dos guias turísticos.
O que faz de um tango um tango é a atração e a repulsa. É a tentação e o medo. É o afeto e a raiva. O que faz de um tango um tango é ela seguindo na mesma direção dele, e ele seguindo na mesma direção dela, até que um tenta fugir e o outro tenta impedir, numa alternância de fugas que se querem e não se querem. O que faz de um tango um tango é a dor de um e de outro transformada em coreografia simétrica. O que faz de um tango um tango é o encontro que se desencontra e se reencontra. O que faz de um tango um tango são os volteios do amor dos poemas clássicos, das canções dos trovadores. Os volteios do amor que bebe no prazer e na fúria. Os volteios do amor que se amorna e logo torna a incandescer. O que faz de um tango um tango é o amor que, na iminência de um final que se prenuncia infeliz, acha o final feliz. Porque nunca em um tango que é tango os dançarinos terminam separados, descolados, deslocados.
O que faz de um tango um tango sou eu dentro de você na carne e você dentro de mim na alma, depois do último acorde, depois do último aplauso, depois da última lágrima, depois do último gozo. O que faz de um tango um tango é a música que se quer silêncio. O silêncio dos amantes.
Olá! Interessante o seu espaço! Tbm gosto muito desse baú de letras que junta direito, literatura, arte... Baú de palavras, não é? Caso possa dar uma olhadinha no meu blog, ficarei muito honrada. E, por favor, fique à vontade pq no Balaio a casa é sua. Um abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTécnicas e Métodos 2
ResponderExcluirO processo das perguntas
Um método igualmente simples, que também costuma render bons resultados entre os iniciantes da arte da escrita, é o chamado processo das perguntas.
Depois de escolher o gênero ou formato por onde começar, formule para você mesmo uma séria de perguntas relativas ao assunto que você pretende abordar. Interrogações que devem ir das mais simples às mais complexas, mas sem perder de vista seu objetivo – escrever sobre determinado tema. Por exemplo:
- por que escolheu este assunto, e não outro? (caso tenha havido uma oportunidade de escolha.)
- o que você pretende dizer?
- como você pretende enforcar o assunto escolhido.
- de que informações e recursos (materiais e intelectuais) você dispõe?
- em meio às informações e opiniões, como você se posiciona a respeito do assunto em questão?
- onde você pode obter as informações complementares?
- que grau de aprofundamento você pretende dar ao assunto?
- qual o tamanho do texto?
- que voz e tom você escolherá para construir o texto?
Paralelamente, desenvolva o seguinte esquema-padrão, que pode ser um bom truque para você começar (contanto que não se torne um cacoete de escrita):
- selecione os elementos (informações, sobretudo) que integração cada etapa de seu texto (começo, meio e fim).
- estabeleça a idéia-núcleo e, em torno dela, construa o parágrafo inicial e introdução (começo).
- ordene os elementos que integrarão o desenvolvimento (meio0.
- determine qual vai ser a conclusão do seu texto.
- ordene os elementos que integrarão a conclusão (fim).
De posse das respostas (que precisam ser as mais objetivas e sinceras possíveis0 e das informações bem ordenadas, avalie metodicamente todo esse material.
Anote frases, fragmentos e palavras. Organize também essa nova etapa do trabalho. Faça sempre isso, a cada frase. Organização é fundamental.
Procure fazer tudo isso (perguntas, respostas, ordenamento do material) segundo uma ordem lógica. Agindo assim, você vai ficar surpreso ao verificar que as respostas enfim organizadas já constituem, de certa maneira, o texto que você pretende escrever. E que, de alguma forma, já conseguiu. Agora é ir em frente.
Aos poucos, certamente todo esse processo será assimilado inconscientemente por você, como uma segunda natureza. Graças à persistência e à dedicação, você terá enfim adquirido esse hábito chamado boa escrita.
BORGES, Antonio Fernando. Não perca a prosa: o pequeno guia da grande arte da escrita. Rio de Janeiro: Versal, 2003.
O cúmulo do orgulho é desprezar-se a si próprio
ResponderExcluirFlaubert, Gustave
Estudo de Tida Carvalho sobre o Padre Vieira e o poeta Augusto de Campos: http://www.cultura.mg.gov.br/arquivos/SuplementoLiterario/File/sl-edicao-fevereiro.pdf
ResponderExcluir"Fora da noite que me cobre,
ResponderExcluirNegra, como o poço de pólo a pólo,
a qualquer Deus, se algum existe
Por minha própria alma inconquistável agradeço
Nas garras da circunstância
eu não vacilei nem me ouviram chorar
sob os golpes do acaso
minha cabeça sangra mas permanece ereta
além desse lugar de rancor e lágrimas
somente o horror das sombras se anuncia
e mesmo a ameaça dos anos
encontra-me, e há de encontrar-me, destemido,
não importa quão estreito o portão.
ou quão repleto de penas o veredito
eu sou o mestre do meu destino
eu sou o capitão da minha alma
A qualquer Deus, se algum existe
Por minha própria alma inconquistável agradeço
Eu sou o mestre do meu destino
Eu sou o capitão da minha alma"
Poesia que Nelson Mandela conheceu na prisão e que o norteou. in Invictus)
Folha de São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010
ResponderExcluirIMAGINAÇÃO
PROSA, POESIA E TRADUÇÃO
O que faz de um tango um tango
MARIO SABINO
O QUE FAZ de um tango um tango não são as letras lamuriosas. O que faz de um tango um tango não é o Gardel morto que canta cada vez melhor. O que faz de um tango um tango não são os passos ensaiados na tradição. O que faz de um tango um tango não é a orquestra com o ar cansado de quem tudo já viu. O que faz de um tango um tango não são as pernas altas da dançarina, calçadas em meias pretas. Não é seu cabelo preso ora com flor, ora com fita. O que faz de um tango um tango não é o chapéu antigo do dançarino. Não são os seus sapatos lustrosos. Não é o seu terno de risca-de-giz. Não é o seu lenço dobrado no bolso da lapela. O que faz de um tango um tango não é Buenos Aires. Não é qualquer geo-grafia. O tango não está no mundo das latitudes, das longitudes, das cartografias, dos guias turísticos.
O que faz de um tango um tango é a atração e a repulsa. É a tentação e o medo. É o afeto e a raiva. O que faz de um tango um tango é ela seguindo na mesma direção dele, e ele seguindo na mesma direção dela, até que um tenta fugir e o outro tenta impedir, numa alternância de fugas que se querem e não se querem. O que faz de um tango um tango é a dor de um e de outro transformada em coreografia simétrica. O que faz de um tango um tango é o encontro que se desencontra e se reencontra. O que faz de um tango um tango são os volteios do amor dos poemas clássicos, das canções dos trovadores. Os volteios do amor que bebe no prazer e na fúria. Os volteios do amor que se amorna e logo torna a incandescer. O que faz de um tango um tango é o amor que, na iminência de um final que se prenuncia infeliz, acha o final feliz. Porque nunca em um tango que é tango os dançarinos terminam separados, descolados, deslocados.
O que faz de um tango um tango sou eu dentro de você na carne e você dentro de mim na alma, depois do último acorde, depois do último aplauso, depois da última lágrima, depois do último gozo. O que faz de um tango um tango é a música que se quer silêncio. O silêncio dos amantes.
Olá!
ResponderExcluirInteressante o seu espaço! Tbm gosto muito desse baú de letras que junta direito, literatura, arte... Baú de palavras, não é? Caso possa dar uma olhadinha no meu blog, ficarei muito honrada. E, por favor, fique à vontade pq no Balaio a casa é sua.
Um abraço.