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sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Matéria de Poesia de Manoel de Barros


Texto de Manoel de Barros, inserto no livro Matéria de Poesia, segundo capítulo (Com os loucos de água e estandarte), poema nº2:


Assim falou Gidian(ou Gedeão)

que assistia nos becos:

 

"Poeta Quintiliano me nomeou Principal

Sou lobisomem particular

Eurico me criou desde criança

Para lobisomem

Me inventei

 

Fui procurar dentro do mato um preto Germano

Agostinho, que operava com ervas

Mandou botar as unhas no vinagre vinte dias

Aprendi grande

 

Só as dúvidas santificam

O chão tem altares e lagartos

 

Remexa o sr.mesmo com um pedacinho de arame

Os seus destroços

Aparecem bogalhos

 

Quem anda no trilho é trem de ferro

Sou água que corre entre pedras:

- liberdade caça jeito

 

Procuro com meus rios os passarinhos

Eu falo desmendado

 

Me representa que o mundo

(...), tem de tudo:

- cabelos de capivara

Casaca de tatu...

 

Gosto é de santo e boi

Saber o que tem da pessoa na máscara

é que são!

Só o guarda me escreve

 

Palavras fazem misérias

Inclusive músicas!

 

Eu sou quando e depois

Entro em águas...

 

BARROS, Manoel. Matéria de Poesia, p.31-32. 

Em MATÉRIA DE POESIA, Manoel de Barros elabora situações, personagens e pequenas narrativas em que aparecem diversos tipos de "loucos de água e estandarte", andarilhos-poetas que perambulam num mundo às avessas, vivendo numa espécie de terceira margem, entre o mundo e o imundo, entre o primitivo e o civilizado. Nascido a 19 de dezembro de 1916, em Cuiabá, Manoel de Barros é casado, tem três filhos e sete netos. É autor de 13 livros, entre os quais Livro sobre nada - vencedor do prêmio Nestlé de Literatura 1997 na categoria Poeta Consagrado -, Livro das ignorãças, Concerto a céu aberto para solos de ave, Arranjos para assobio, Poemas concebidos sem pecado e Matéria de poesia, entre outros. Com Matéria de poesia, Poemas concebidos sem pecado, Compêndio para uso dos pássaros e Gramática expositiva do chão, a Editora Record completa o projeto de fixação da obra de Manoel de Barros. Ao todo, a editora relançou nove livros do poeta pantaneiro, com texto revisto e novo projeto gráfico.

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