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quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A estrambótica aventura do senhor Martius von Gloeden, o caçador de orquídeas


A estrambótica aventura do senhor Martius von Gloeden, o caçador de orquídeas

Capa
Gradiva, 2017 - 387 páginas

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LOIOLA E ROSA
(RESENHA DE LETÍCIA MALARD - BELO HORIZONTE-MG - BRASIL)
 A estrambótica aventura do senhor Martius von Gloeden, o caçador de orquídeas, romance de estreia e premiado de Carlos Roberto Loiola, formata-se em dois pilares: a erudição de um orquidófilo em sua especialidade e a busca de recriação da linguagem caipira do estado brasileiro de Minas Gerais no século XIX.
A narrativa está centrada nas expedições do fanático colecionador von Gloeden, à procura de novos espécimens da flor pelas florestas mineiras, acompanhado de homens simples da região, que o apoiam e o auxiliam em sua empreitada. Pelos caminhos e nas localidades onde arrancham, encontram outras personagens com quem interagem: frades, prostitutas, farmacêuticos, autoridades judiciais, fazendeiros. 
A aventura desse caçador alemão de fala brasileira arrevesada desdobra-se em outras aventuras, espécies de micronarrativas apresentadas por um narrador roseano, quer dizer, um narrador que se dirige a um doutor ouvinte imaginário, silencioso em todo o tempo, tal como no Grande sertão: veredas. Loiola se inspira no inimitável Guimarães Rosa, nesse e em outros elementos do romance - como por exemplo a reprodução de dialetos sertanejos, os "causos" disseminados pela narrativa e os percalços das andanças do protagonista e seus ajudantes à procura de gêneros de orquídeas desconhecidos. 
Porém, penso que essa inspiração não compromete em nada a proposta do escritor, cujo eixo é exatamente dar continuidade a uma literatura típica do interior de Minas Gerais, encenada no período imperial da nação. Durante esse período, vários cientistas, pesquisadores e aventureiros sobretudo europeus viajaram pelo Brasil, quer por iniciativa própria, quer financiados pelo poder constituído. Dessas viagens deixaram testemunhos em livros, relatos, desenhos, taxonomias, etc. Quase todos foram publicados na Europa, despertando nos leitores a atração e o encantamento pelo diferente, pelo exótico e pela natureza virgem e exuberante. Não é gratuito o fato de o caçador, maravilhado, encontrar e recolher tipos de orquídeas desconhecidos, assim como aqueles viajantes da não ficção encontravam e reproduziam no papel animais e plantas nunca vistos. Também não é gratuito o fato esse romance ter sido premiado e publicado na Europa.
Se o escopo de Rosa foi apresentar o sertão trágico, da marginalidade social e seus conflitos - bandos de jagunços versus bandos inimigos ou tropas militares - o objetivo de Loiola é encenar um sertão lírico-científico, ou seja, as peripécias de um orquidófilo acadêmico, no geral também sob risco de vida, suas alegrias e prazeres na busca, no encontro e na classificação de orquídeas raras. E, ladeado por sertanejos, frades e fazendeiros do bem, que estranham suas ações e reações de orquidófilo, trabalha em benefício da Ciência tão somente. 
Premiado em Portugal com o "Prêmio Carlos de Oliveira", o romance de Carlos Roberto Loiola abre espaço na produção de um tipo de literatura que, dialogando com a literatura de viagens típica do século XIX e com a maestria de um dos maiores escritores da Literatura Brasileira do século XX, entrecruza História e Ficção, Popularismo e Erudição, Originalidade e Inspiração Transcriadora, enfim: produz um amálgama com que se faz a boa literatura.
 

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