"Tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo", escreve Carlos Drummond de Andrade em um de seus poemas mais célebres. E segue: "Os camaradas não disseram/ que havia uma guerra/ e era necessário/ trazer fogo e alimento./ Sinto-me disperso,/ anterior a fronteiras".
Até o dia 7 de abril, os leitores terão acesso gratuito a cinco e-books de um dos principais poetas – e cronistas – da língua portuguesa de todos os tempos. Nesta seleção de livros em prosa e verso, o autor de A rosa do povo, atento às questões políticas e sociais, usa como matéria-prima o tempo presente. E, com engenho magistral, se mantém mais atual do que nunca.
Sentimento do mundo: um dos títulos mais memoráveis da poesia brasileira, o livro publicado em 1940 traz as observações de Drummond às marcas do tempo, na época em que o nazismo ascendia e o Estado Novo se estabelecia.
Fala, amendoeira: lançado em 1957, o volume reúne crônicas escritas para o jornal Correio da manhã sobre temas variados, como cinema e política.
Os dias lindos: reunião de colunas publicadas no Jornal do Brasil, o livro traz crônicas, textos de circunstância e pequenas narrativas.
Caminhos de João Brandão: lançada em 1970, a obra perfila crônicas escritas para o Jornal do Brasil que retratam os principais acontecimentos no país durante as décadas de 1950 e 1960.
70 historinhas: publicado em 1978, este conjunto de textos em prosa mistura contos e crônicas, marcados pelo humor e pela delicadeza.
É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades, é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país, é preciso crer em Deus, é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio, é preciso esquecer fulana.
É preciso estudar volapuque, é preciso estar sempre bêbedo, é preciso ler Baudelaire, é preciso colher as flores de que rezam velhos autores.
É preciso viver com os homens, é preciso não assassiná-los, é preciso ter mãos pálidas e anunciar o FIM DO MUNDO.
Congresso internacional do medo
Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
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